Acredito que não vou falar nada de novo nos próximos
parágrafos. Mas não importa quantas vezes for dito, acredito que poucas pessoas
serão tiradas da inércia por uma mera reunião de palavras que este singelo
mortal vos escreve.
Os seres humanos tem em suma maioria uma estranha natureza de tentar a todo custo afastar-se do real, dessa sucessão de instantes que os acomete e da qual eles não podem escapar ou explicar, por mais que queiram. Existiram pensadores que fizeram disso a semente que germinou em sua filosofia. Não sou especialista, mas acredito não ser difícil verificar o pensamento de Platão nessa sentença.
O que você deve saber é que Platão foi um filósofo.
Muitos dirão que deveria se tratar de um Zé Ninguém que não tinha mais o que
fazer e por isso ficava colocando caraminholas em sua cabeça, pela grande
quantidade de tempo gasto fazendo nada, e de outras pessoas, pois, com certeza,
deveria ficar atormentando os mais próximos com perguntas. E há dias em que não
estamos com humor para isso. Para muitas pessoas, nunca. Mas e daí? O que um
filósofo da Grécia Antiga tem de relação com o título desta postagem?
Ora, meus caros leitores, como sempre tem acontecido
em textos anteriores, este é mais um caso em que a abordagem de Platão nos
serve para iniciar nossa reflexão. Assim sendo, acompanhem meu raciocínio.
Aqueles que conhecem minimamente a filosofia de
Platão sabem que, para ele, existiam dois mundos: um sensível, este que nos
rodeia e que nos aflige o mundo do corpo; e outro, inteligível, onde tudo existe
na mais perfeita ordem, o mundo da alma. O segundo seria superior ao primeiro.
Não vou me demorar no tema, afinal, para explicar as ideias do filósofo seriam
necessários vários textos nem um pouco curtos.
Voltemos ao que nos interessa no momento.
Essa visão dualista influenciou e ainda influencia os
trâmites do pensamento ocidental. E existem várias maneiras de se utilizar desse
tipo de argumento e visão. Eu poderia citar as bases da doutrina judaico-cristã,
em que este mundo de pecado (inferior) será trocado por um celestial (superior),
perfeito em que nada poderia nos desalegrar. Felicidade suprema. Claro, se seguirmos
todos os ensinamentos do deus e não formos para o Inferno, o completo oposto
disso. Um mundo ainda pior do que este em que vivemos.
Poderia citar também os princípios da ciência, garantidora
da mudança deste nosso mundo presente (inferior) para um futuro melhor
(superior), futuro este que nunca chega e que vive e existe apenas na cabeça
daqueles que acreditam piamente nisso. Uma readaptação das ideias platônicas?
Eu gosto de acreditar que sim.
Existiram outros filósofos que discordariam de
Platão, dizendo que não existem dois mundos, como Aristóteles, mas apenas um que
é a união indissociável dos dois por ele proposto, mas, como eu disse, não vim
aqui dar aula de filosofia e não vou me demorar nesse tema.
Hoje, porém, este mundo virtual, inteligível, parece
cada vez mais presente em nossa vida. Quantos de nós não temos perfis em redes
sociais em que nos expressamos das mais variadas maneiras, em vários formatos,
com texto, música, imagem, vídeos, etc. Tudo que a tecnologia nos é capaz de
propor na comodidade de um clique. Mas, e daí?
Daí que esse mundo merece ser tratado com cautela
para que não nos afoguemos, assim como nossos antepassados, nos nossos
pensamentos, num mundo inteligível e inexistente na concretude e nos esqueçamos
de viver.
O texto poderia muito bem parar por aqui. Já daria
uma boa mensagem motivacional, embora não fosse essa a ideia a priori, mas aqui
vai o motivo de todo ele. Uma última comparação para entendermos como esse
mundo na tela de uma máquina nos apresenta o irreal.
Hipocrisia.
Isso mesmo, caro leitor.
Hipocrisia Virtual, para ser mais exato.
Quantos e quantos de nós não temos um discurso
tacanho de melhora do mundo, de busca de um futuro em que todos teriam acesso
às mesmas coisas, de respeito, de tolerância, mas não conseguimos nem sair de
uma discussão sem denegrir a imagem do outro e confundindo opinião com
argumento, utilizando o primeiro como segundo.
Pois é, meus caros amigos...
Nesse mundo virtual tudo parece valer assim como no
real. E é isso que assusta. Mas algo ainda se mantém: curtidas, comentários e
compartilhamentos valem; imagens e vídeos, motivacionais ou não, valem; o discurso vale;
mas ainda assim, as ações falam mais alto. De que adianta ter o discurso ideal,
a moral inatacável, se na hora de agirmos com tais valores não os fazemos?
Sem falar que parece que tudo deve ser mostrado. Tudo mesmo. E eu tenho a impressão de que, em muitas das vezes, o que é mostrado é apenas fachada, um verniz pra encobrir a podridão em que o móvel se encontra. Um disfarce, um embuste. E para quê? Não sei. Não me preocupo em procurar a gênese destes fatos, pois sei que de nada adiantará possuir essa informação, embora algumas destas gêneses estejam tão à mostra que fica difícil não vê-las.
Tenham cuidado com o que postam, meus caros amigos. Pois, esse mundo é virtual e de nada adianta maquiá-lo como fazem com o real, pois os
dois mundos são apenas um. Seja no mundo Real, seja no Virtual, ainda serás
julgado pelo teu agir, não pelo teu falar.
Ainda bem...
Ainda bem...
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PHYLOS, O FREI
A Verdade Nua e Crua |